Wagner

Ai, ai.

Veruska

Waguinho, tu já leu esse livro de poesia aqui?

Wagner

Ai, poesia…

Veruska

É cada coisa mais linda. Eu fico, oh, toda derretida.

Wagner

Ah, Veruska, eu adoro poesia. Olha, eu até sei declamar algumas, visse?

Veruska

Mentira.

Wagner

Aham, sei sim.

Veruska

Acredito. Ah, eu quero ver.

Wagner

Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão.

Veruska

Ah, oxe, oxe, oxe… Waguinho, não é se esparrama, não. É se espalha ramas.

Wagner

Ah, espalha ramas. Ai, não era assim que eu aprendi. Não, mas... Vai lá. Batatinha, quando nasce, espalha ramas pelo chão.

Veruska

Agora! Arrasou!

Wagner

Se siri não tem carcaça, quem roubou minha bicicleta?

Veruska

Ish, isso não tá bom não, visse?

Wagner

Ai, não tá, não?

Veruska

Não, tá horrível.

Wagner

Hum, isso tá horrível…

Veruska

Uhum…

Wagner

Tá. Conta tu, então.

Veruska

Tá. Eu vou tentar agora uma, peraí, que eu vou me preparar.

Wagner

Tá, faz uma rima bem bonita, visse?

Veruska

Uhum. Batatinha quando nasce, espalha ramas pelo chão. Se tu não me querias, pra que roubou o meu coração?

Wagner

U-huu! Eita, eita, como declama.

Veruska

Não, não é. Olha!

Wagner

Olha aqui, tô todo arrepiado. Só pra não dizer aperreado.

Veruska

Ah, amigo, eu sou uma grande poetisa.

Wagner

Olha, você eu não sei, mas uma coisa eu tenho certeza: é que o nosso convidado de hoje é um baita de um poeta. Seja muito bem-vindo ao nosso mundo de poesias,

Giuseppe

Macena!

Veruska

Uhul!

Wagner

Olá, pessoal! Eu sou Wagner!

Veruska

E eu sou Veruska!

Wagner

Você já se perguntou o que vai ser quando crescer?

Veruska

Então, venha conhecer o mundo das profissões!

Wagner

Sejam bem-vindos e bem-vindas ao...

Veruska

Quando eu era criança!

Wagner

Episódio de hoje: O que faz um poeta?

Giuseppe

Olá, bom dia, boa noite, boa tarde, boa madrugada. Em que horário forem escutar esse podcast, essa brincadeira nossa aqui!

Veruska

Obrigada pela sua presença. E deixa eu te fazer uma pergunta. Como você explicaria a sua profissão para as crianças que estão nos ouvindo?

Giuseppe

Pra mim, poesia é você brincar com as palavras para que as dores se tornem menores ou os amores maiores.

Wagner

Nossa, já começou com essa profundidade toda. Agora vem cá, quando você era pequeno, o que você queria ser quando crescesse?

Giuseppe

Rapaz, na verdade eu não queria ser nada, só queria ser criança mesmo. Sério?

Wagner

Pra sempre?

Veruska

Pra sempre? E uma coisa, mas teve algum momento assim que você decidiu que queria ser poeta, queria seguir essa profissão, teve algum momento assim ou não?

Giuseppe

Teve quando o meu irmão mais velho, Guilherme é o nome dele, ficava me mostrando versos e os versos me tocavam muito e eu digo, pô, me sinto tão tocado por isso, eu queria tentar tocar também as pessoas.

Veruska

Ah, então tu ficava encantado quando ele falava, declamava…

Giuseppe

Era mais de música do que de poesia, no início. E eu ficava vendo aqueles versos tão bonitos. E eu dizia: a poesia se completa quando a primeira pessoa é tocada por ela.

Wagner

Como é assim que tu cria a poesia? Onde tu busca inspiração? Ela acontece, você cria na hora, você vai trabalhando e retrabalhando o texto? Como é o teu processo?

Giuseppe

Eu não nasci, não, com esse dom do improviso. Tenho vários amigos improvisadores. mas eu nasci com esse dom, não. Eu faço poesia quando vou andando na rua e vendo coisas e vai me vindo as imagens e vontade de escrever. Patativa do Assaré dizia, eu me identifico muito com isso, que era: “pra todo canto que eu olho, eu vejo um verso de bolindo”. A sensação que eu tenho é essa, mas é essencialmente andando na rua. Aí depois eu fiquei muito satisfeito quando eu descobri também que Eduardo Galeano, lá do Uruguai, só escrevia também depois de fazer uma caminhada. Eu disse “tá vendo, oh”. Meu companheiro de escrita agora, Eduardo Galeano.

Veruska

Então caminhar é inspirador?

Giuseppe

Exatamente.

Wagner

Agora chegou aquela hora do nosso programa, que é a hora de você brincar com a gente, Giuseppe. Está preparado?

Giuseppe

Estou sim.

Veruska

E a gente sabe que para escrever bem poesia, tem que saber escrever palavra por palavra, bem direitinho, né?

Wagner

É por isso que a nossa primeira brincadeira de hoje é a “Soletrando”.

Veruska

A gente vai te fazer uma pergunta e você responde soletrando, pra gente tentar entender o que é.

Wagner

Vamos lá, primeira pergunta: Qual é o sentimento que mais te faz escrever poesias?

Giuseppe

E, S, T, R, A, N, H, A, M, E, N, T, O. Todos Estranhamento!

Veruska

E qual a palavra mais bonita da língua portuguesa pra você?

Giuseppe

Sabe que eu nunca tinha parado pra pensar sobre isso? Eu gosto de todas elas, inclusive tem uma coisa que eu acho interessante. Na língua portuguesa do Brasil, nós temos 400 mil palavras.

Veruska

Isso tudo?

Giuseppe

É, e uma pessoa da sociedade mediana, uma pessoa comum, fala em média 5 mil palavras. Dizem que Machado de Assis foi quem mais usou, usou 12 mil. E mesmo assim ainda sobram 388 mil palavras não usadas. Só que, no fim das contas, a poesia, ela tá dentro das 5 mil e é infinita.

Wagner

Que todo mundo usa.

Giuseppe

É.

Wagner

E dentro desse universo de 5 mil palavras, tem alguma que tu acha muito bonita? Que seja a mais bonita de todas?

Veruska

Soletra pra gente?

Giuseppe

C, U, R, I, O, S, I, D, A, D, E. Todos Curiosidade!

Wagner

Tem outra que eu amo também. F, O, F, O, C, A. Fofoca.

Giuseppe

E vocês sabiam, vocês falaram de rima aí no começo, que tem umas palavras sem rima?

Wagner

Qual?

Giuseppe

Príncipe.

Wagner

Príncipe?

Veruska

Não rima com nada?

Giuseppe

Com nada.

Wagner

Ah, é por isso que é chato os príncipes das histórias.

Giuseppe

Lâmpada.

Veruska

Não rima com nada.

Giuseppe

Nada. Cinza.

Wagner

Cinza. É, não rima. Não rima.

Veruska

Que interessante, eu não sabia.

Wagner

Outra palavra que não tem rima?

Giuseppe

Eu lembro dessas três.

Wagner

Dessas três. Então você nunca usa elas nas suas poesias?

Giuseppe

Uso porque em várias poesias eu também não rimo.

Veruska

Ah, então poesia não precisa só ser rimada?

Giuseppe

Não.

Veruska

Que descoberta!

Wagner

Nossa. Eita, eu acho que eu acabo de fazer uma poesia pra vocês, Giuseppe. É sem rima. Posso falar?

Giuseppe

Por favor.

Wagner

Dentre todas as pessoas que existem no mundo, você com certeza é uma delas.

Giuseppe

Muito boa.

Veruska

Ó, toda arrepiada.

Giuseppe

E eu concordo.

Wagner

Vamos pra nossa próxima brincadeira?

Veruska

Vamos! Chegou a hora da nossa segunda brincadeira do dia, que você vai tirar com certeza de letra.

Wagner

É a nossa brincadeira “Chuva de poesia”!

Veruska

A gente vai começar uma poesia e você tem que completar respondendo a nossa pergunta e fazendo uma rima bem bonita.

Wagner

Ui, é difícil, mas tenho certeza que você tá preparado. Vamos lá?

Giuseppe

Vamos. Falei sem convicção.

Veruska

Por favor, poeta, com mais convicção.

Wagner

Acredita, poeta, na tua rima.

Giuseppe

Vamos!

Veruska

Quando eu era criança, eu gostava de brincar…

Giuseppe

Pela manhã, pela tarde, na hora do jantar, até minha mãe chegar e mandar eu parar de brincar.

Wagner

Agora eu, agora eu. Na minha casa tinha um espaço que era muito especial…

Giuseppe

Especial de um jeito como quem brinca carnaval. Você começa brincando e amanhã já é final.

Veruska

Ai, adorei esse jogo. Agora vamos para outra brincadeira e vamos usar bastante a imaginação.

Wagner

É a hora do “E se?” E nesse jogo a gente vai fazer uma pergunta e você vai responder usando o máximo da sua imaginação, que eu sei que não tem fim.

Veruska

Certeza que essa vai ser molezinha pra você.

Wagner

Vamos lá? Primeira pergunta. E se você pudesse mergulhar fundo dentro de uma poesia, o que você acha que encontraria lá dentro?

Giuseppe

Dentro de uma poesia profunda, eu encontro Giuseppe.

Wagner

Giuseppe.

Veruska

E se você pudesse voar usando apenas uma palavra, qual seria essa palavra?

Giuseppe

Imaginação.

Wagner

Uau, é justo palavra do nosso jogo. Assim eu tenho certeza que você vai voar longe.

Veruska

E agora chegou a hora de conhecer um pouco mais o universo da poesia.

Wagner

É a hora do nosso “Dicionário”.

Veruska

Nessa brincadeira, você vai explicar o que significa algumas palavrinhas e expressões que, com certeza, você usa muito quando está ali com seu papel e sua caneta, escrevendo, se inspirando nas suas poesias.

Wagner

A primeira palavra é uma que a gente já falou aqui hoje. Rima. O que é rima?

Giuseppe

Rima é uma repetição de sonoridades. Geralmente o pessoal tende a rimar, fica mais fácil, palavras do infinitivo né: brincar, jogar, pular, descer, subir. Mas também pode ser uma rima “aluguel com chapéu”. Só que também existe a rima imperfeita. Essas são as rimas perfeitas. Então pode ter uma rima imperfeita que rime “ímã” com “cima”. Pode ver que ímã na verdade tem um til no final e cima não tem. Então a rima imperfeita é a que rima no meio da palavra, não exatamente no final.

Veruska

Que tudo! Não sabia disso!

Giuseppe

Que chama também rima toante.

Wagner

Toante?

Giuseppe

É.

Wagner

Interessante. Eu também não sabia. Pensava que a rima tinha que ser certinha, a palavra igualzinha com a outra.

Veruska

É, tinha que terminar igual, né? Aquela coisa. E o que é métrica?

Giuseppe

Métrica é a quantidade de sílabas poéticas. As sílabas normais, quando a gente vai separando as sílabas: eu-nas-ci-on-tem. Isso daria cinco sílabas. Só que na poesia só conta até a penúltima sílaba tônica. Então, nisso contaria on-tem Eu-nas-ci-on Porque não levaria em consideração a última sílaba.

Wagner

Agora, Giuseppe, quando eu era criança, na minha quarta série, aí eu fui muito apaixonado por uma pessoa. É uma menina chamada Marcela. E aí eu fiz uma poesia pra ela. E era assim, eu lembro que eu escrevi num papel. Minha poesia. Era assim. Amo porque te amo. Quero porque te quero. De tanto te amar, na nota só tiro zero. Essa é a única poesia que eu fiz na vida.

Giuseppe

É um grande amor sem tirar zero.

Wagner

Veruska…

Veruska

O que foi, amigo?

Wagner

Adivinha.

Veruska

Ai, não.

Wagner

Tá chegando aquela hora.

Veruska

Vamos fazer a récita final, é?

Wagner

Tá chegando a hora das nossas perguntinhas finais.

Veruska

Vamos, então, fazer as perguntinhas finais, amigo. Não queria...

Wagner

Eu começo, eu começo. Giuseppe, quem mais te inspirou na tua profissão, na tua carreira de poeta? E por quê?

Giuseppe

Talvez o poeta que mais me inspirou foi Rogaciano Leite, daqui de Pernambuco, lá de Itapetim. Rogaciano Leite tem uma poesia que me toca muito, para além de bem feita, ela também traz uma carga política muito grande, até quando fala de amor.

Veruska

E se você pudesse voltar ao tempo e você encontrar o Giuseppe criança e pudesse falar alguma coisa pra ele, o que é que você falaria?

Giuseppe

Continue assim, porque eu nasci uma criança inquieta, indignada. Naquela época o pessoal chamava revoltado. Esse menino é revoltado. E aí quando eu fiz 40 anos, eu fiquei pensando nisso. Aí eu disse, já fiz 40 anos. deve ter algo de errado comigo. É que a minha indignação continua adolescente. Não quero amadurecer para não correr o perigo de chamar alguém de infantil morrendo de vontade de brincar.

Veruska

Ai, que lindo!

Wagner

Giuseppe, me diz uma coisa. Para as crianças que estão nos ouvindo agora e que são também revoltadas e inquietas, que adoram brincar com as palavras, que amam poesia e que querem seguir a vida de poeta, seguir isso como profissão, o que é que você diria para elas?

Giuseppe

Eu diria para elas que leiam poesias, escutem poesias, assistam poesias, escutem cantores, compositores, porque assim você vai aumentando a sua influência, aumentando a sua capacidade de criação.

Veruska

Que ótima dica, viu? Adorei. E a gente agora vai se despedindo, né, amigo?

Wagner

Chegou realmente ao finalzinho do nosso programa.

Veruska

E a gente quer agradecer bastante você por ter vindo aqui, trazer toda a tua poesia, né? Toda a tua delicadeza ao nosso programa, compartilhar com a gente a sua poesia e de outras tantas pessoas, né?

Giuseppe

É isso.

Wagner

Muito obrigado, Giuseppe, por abrilhantar o nosso programa, por trazer mais poesia para o Quando Eu Era Criança. Foi uma delícia esse nosso papo. Muitíssimo obrigado por ter aceitado, por ter estado aqui com a gente, brincando com a gente.

Giuseppe

Eu também agradeço. Gostei demais de estar aqui nessa troca que, de tão boa, Foi muito rápida.

Veruska

E pra ir embora, antes da gente dizer “tchau, ouvintes”, tu tem alguma poesia tua infantil?

Giuseppe

“Hoje eu vou cantar pro grilo, pra ele não cantar por mim. Este inseto é um perigo, pois quando estou só comigo, ele solta o seu veneno através de um som ameno com notas tristes de fim. O seu canto é solidão. E o meu já foi segredo. Quando eu não escuto o grilo, eu ouço o meu próprio grito, confessando todo o meu medo. Pra deixar sem canto o grilo, eu quero mais alto cantar. Ele canta por amor e eu porque estou sem querer me escutar. Quando o grilo tá por perto, eu sou vítima, ele é algoz.” “Seu lamento sem vergonha é uma porrada medonha pra quem sofre e abafa a voz”. “Ele já me incomodou, mas virou meu companheiro”. “Eu sempre escuto o seu barulho… …E quando eu saio do escuro, eu vejo o grilo no espelho”.

Wagner

Uau! E assim a gente termina o programa de hoje.

Veruska

Crri, crri… os grilinhos agora. Todos Crri, crri, crri, crri, crri, crri, crri, crri, crri, crri, crri.

Wagner

A todo mundo que nos ouviu agora, um beijo e até o próximo programa.

Veruska

Beijo, pessoal. Cheirinho.

Wagner

Direção: Filipe Carvalho e Márcio Andrade.

Veruska

Roteiro: Filipe Carvalho.

Wagner

Desenvolvido a partir do formato criado originalmente por Márcio Andrade.

Veruska

Produção e produção executiva: Pollyanna Melo

Wagner

Pesquisa e produção: Karine Ordônio.

Veruska

Apresentação: Andréa Veruska e Wagner Montenegro.

Wagner

Estúdio de gravação: Falante Áudio.

Veruska

Atendimento: Mariana Bandeira.

Wagner

Edição, mixagem e finalização: Sérgio Kyrillus.

Veruska

Trilha sonora de abertura: João Santos.

Wagner

Composição gráfica, site e gestão de redes sociais: Mirah Ateliê de Ideias, Paula K. e Juliana Santos.

Veruska

Ilustrações: Paula K.

Wagner

Conteúdo digital e imprensa: Gabriela Araújo Comunicação.

Veruska

Controller: Carol Accioli.

Wagner

Contabilidade: Paulo Ferreira.

Veruska

Realização: Combo Multimídia e Margente Filmes.

Wagner

Incentivo: Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura. Funcultura.