O que faz um dublador?

O que faz um dublador?

Episódio 11
20:05

Sobre o episódio:

Você sabia que, por trás das vozes dos desenhos animados, tem uma pessoa? E que brincar com a voz pode ser uma profissão?

No programa de hoje, vamos conversar com o dublador Marcello Trigo para falar um pouco sobre como descobriu que fazer dublagem poderia ser uma profissão.

Transcrição:

Ambiência de cinema
Wagner
(cochichando) Cadê tu, Verus? Tás em qual cadeira?
Veruska
(cochichando) Tô aqui, Wag. Vem logo que já começou o filme.
Wagner
(cochichando) Opa, licença, moça. Desculpa, moço. Ufa, cheguei!
Veruska
(cochichando) Ain, amigo. Que feliz que tu conseguiu vir a tempo!
Wagner
(cochichando) Ah, faz tempo que não vinha ao cinema. Queria muito!
Veruska
(cochichando) Bom, começou faz uns cinco minutos, mas dá pra ver.
Wagner
(cochichando) Mas eu não tô entendendo nada do que eles dizem, Verus
Veruska
(cochichando) É só ler a legenda que tá passando embaixo, menino
Wagner
(cochichando) Aiiin, eu não tô conseguindo ler. Passa muito rápido.
Veruska
(cochichando) Wag, já sei! Na sala do lado, tem uma sessão dublada
Wagner
(cochichando) Eita, será que vão deixar a gente ir para lá?
Veruska
(cochichando) A gente pode dizer que é por uma boa causa.
Wagner
(cochichando) Verdade. Então, partiu sessão dublada?
Veruska
Vamos agora! E qualquer coisa, pedimos ajuda ao dublador.
Wagner
Perfeito. Ouvi dizer que ele é um mestre das vozes, hein?
Veruska
Pode entrar no cinema do Quando eu era criança, Marcello Trigo!
Vinheta de Abertura

Wagner
Olá, pessoal! Eu sou Wagner!
Veruska
E eu sou Veruska!
Wagner
Você já se perguntou o que vai ser quando crescer?
Veruska
Então, venha conhecer o mundo das profissões!
Wagner
Sejam bem-vindos e bem-vindas ao...
Ambos
Quando eu era criança!
Veruska
Episódio de hoje, o que faz um dublador?
Marcello
Versão brasileira, Quando eu era criança.
Wagner
(rindo) Já chegou chegando.
Veruska
Adoro!
Marcello
Olá!
Wagner
Marcello, ser um artista da voz é algo que está muito presente em vários filmes, desenhos, programas de TV, séries e até podcast que as crianças assistem, né?
Marcello
Exatamente. Por isso que eu vim aqui, pra gente falar um pouquinho sobre como é esse universo de dublagem e tal. Vamos lá, vamos lá.
Veruska
Aproveita, Marcelo, e conta para a gente o que é esse teu ofício, para todas as crianças que estão ouvindo a gente entenderem.
Marcello
Ah, é porque é o seguinte. Os filmes, quando eles vêm de outro país, eles estão na língua daquele país. Se ele vem da América, ele é em inglês. Se ele vem do Japão, ele é em japonês. Mas quando o personagem vai falar aqui, no nosso país, no Brasil, os personagens têm que falar na nossa língua pra gente entender. Não é isso?
Veruska
Exatamente.
Marcello
Então, o dublador, que é o que eu faço, é a pessoa que vai lá e coloca a voz do personagem lá na tela em português, pra gente poder entender o que ele fala.
Wagner
Agora, quando você era pequeno, você já gostava de brincar com a voz?
Marcello
Sempre, sempre gostei de brincar com a voz desde pequenininho. A minha mãe gostava de uma coisa que chama novela de rádio. Já ouviram falar de novela de rádio?
Veruska
Ah, eu já ouvi.
Wagner
É a novela que a gente escuta em vez da gente ver.
Marcello
Exatamente. Ou a gente consegue ver pelo ouvido.
Wagner
É verdade.
Marcello
É verdade, porque o som é tão perfeito que a gente acha que tá acontecendo de verdade aquilo ali. E a minha mãe tinha várias gravadas em casa. Aí, eu ficava ouvindo várias e várias vezes e ficava imitando as vozes do vilão, do mocinho. Era bem legal.
Veruska
Ah, essas novelas vieram antes da televisão, então.
Marcello
Sim, muito tempo antes. Exatamente. Novela de rádio.
Veruska
Ah, e foi nesse período ou não? Ou foi em outra época que você decidiu que queria ser dublador quando crescesse?
Marcello
Ah, aquilo foi assim. Eu comecei a pensar que eu gostava muito, muito de fazer leitura em voz alta. Sempre gostei muito de fazer leitura em voz alta. Pra mostrar pras pessoas uma redação que eu tinha escrito. Ou então, por exemplo, pra fazer uma voz de um personagem. Eu gostava também, assim, por exemplo, de fazer voz de Papai Noel. Feliz Natal! E aí eu comecei a notar que eu tinha facilidade pra fazer isso, sabe? E aí um dia eu percebi que existia essa profissão, a dublagem. E também locução, que é uma outra coisa que eu faço que tem voz também. Aí, fui nessa direção e tô aí até hoje.
Wagner
E tem assim algum personagem famoso que você goste de imitar a voz?
Marcello
Um personagem famoso que eu gosto de imitar a voz? Deixa eu ver… Esse podcast é editado, né?
Wagner
Sim.
Marcello
Muito bom, porque não tem nenhum.
Veruska
(rindo)
Wagner
Você... Não acredito.
Veruska
Ele é dublador e palhaço.
Wagner
Você não imita a voz do Bob Esponja?
Marcello
Não, não imito.
Veruska
E do Patrick?
Marcello
Não imito.
Wagner
Alguém pode trocar esse dublador?
Veruska
Você não faz dublagem de filme?
Marcello
Por exemplo, o Patrick do Bob Esponja, eu faço. (imitando a voz de Patrick) Bob Esponja, acho que a gente vai ter que ir aí no podcast com o pessoal ali agora. Você vem comigo? (imitando a voz do Bob Esponja) Ei, Patrick. Ei, ei, ei.
Wagner
Aí sim, gente, pode manter esse dublador.
Marcello
Tá bom, obrigado.
Wagner
Agora chegou a hora de você brincar com a gente, Marcello.
Marcello
Vamos lá.
Veruska
Vamos começar com um jogo chamado Sotaque daqui, Sotaque dali.
Vinheta de Quadro – Sotaque daqui, sotaque dali

Wagner
No mundo da dublagem, nosso convidado precisa fazer mil personagens
Veruska
Isso. Gente de todos os lugares do mundo… e até de outros mundos.
Wagner
Então, a ideia desse quadro é fazer com sotaques…
Veruska
… e nosso convidado vai responder acompanhando esses sotaques.
Wagner
(francês) Qual tipo de voz ou personagem que você mais gosta de fazer?
Marcello
(francês) Eu gosto de fazer, por exemplo, um personagem francês. Francês tem esse jeitinho de falar que parece que bota um biquinho na boca e você tem que falar como se fosse um pouco nojento, melhor que todo mundo, assim, sabe? Como se você fosse uma pessoa melhor, entendeu? Tá certo?
Veruska
(francês) Tá certo, tá certo. (americano) Mudando agora o sotaque. Como você se prepara antes de fazer uma locução?
Marcello
(Americano) Ah, bom, a gente se prepara fazendo um aquecimento de voz. Por exemplo, você pode fazer aí em casa, faz assim com a sua boca. (faz exercício com os lábios) Agora conta um, dois, três.
Veruska
Um, dois, três.
Marcello
Sinta como sua voz está mais bonita.
Veruska
Muito mais bonita.
Wagner
Entendi. Esse mundo da dublagem viaja mesmo pelos mundos, não é?
Marcello
Sempre, sempre.
Veruska
E agora chegou a hora do quadro Si-fu-chi-pá!
Vinheta de Quadro – Si-fu-chi-pá

Veruska
Preparado, Marcello?
Wagner
No mundo da locução, é preciso preparar a voz antes de gravar.
Veruska
E para isso, um bom exercício vocal é mais do que necessário.
Wagner
Nesse quadro, vamos encomendar ao nosso convidado alguns exercícios
Veruska
E em seguida, vamos fazê-lo todos juntos. Vamos lá?
Wagner
Marcello, qual exercício vocal você faria antes de dar um grito de guerra no meio de uma batalha milenar entre duendes e gnomos?
Marcello
Olha. Primeiro você tem que tomar água na temperatura ambiente. Vamos tomar água? Agora sim. (gargareja) Muito bem, gargarejar é uma coisa muito boa, realmente. Depois você vai fazer isso aqui com a boca, veja (faz exercício vocal). Muito bem. Em seguida, você pede para a pessoa que está gravando você diminuir o ganho do microfone, que é o que faz o microfone ouvir a gente mais baixinho. Porque um grito é uma coisa muito forte e pode dar pico de áudio, que é como o nosso técnico de som chama quando estraga a gravação. Exatamente. Por último, antes de dar o grito de guerra, você tem que fechar os olhos e imaginar que você está, de fato, no meio da batalha.
Veruska
Ave Maria.
Marcello
Você não está na frente do microfone, você está na batalha.
Veruska
Na batalha.
Marcello
Certo?
Wagner
Certo.
Marcello
E aí você dá o grito. Atenção. Eu vou fazer e depois vocês falam. Três. Dois. Um. (com voz mas grave) Venham, homens! Todos juntos, tragam suas espadas!
Wagner
Não, Marcelo. Não são homens, são gnomos.
Marcello
(com voz normal) Então, eu errei tudo.
Wagner
Exato, são duendes e gnomos.
Marcello
Então vamos fazer de nov... Mas os gnomos não têm homens e mulheres?
Wagner
Não, são gnomos e gnomas.
Marcello
Então... (com voz mais grave) Então venham, gnomos! Tragam suas varinhas de condão! Vamos atrás daquele dragão!
Wagner
Eu acho que eu fiquei com um pouco de medo.
Veruska
Eu não vou pra essa guerra, não. Eu vou ficar aqui, quietinha.
Marcello
Por isso que tem que tomar água antes, pra não ficar rouco.
Veruska
Marcelo, e qual seria o exercício vocal ideal para falar pelos cotovelos?
Marcello
(falando rápido) Para falar pelos cotovelos, eu acho que, na verdade, para falar pelos cotovelos, você precisa ter a velocidade para que você consiga falar rapidamente, um cada uma sílaba na outra, sem que você respire nunca. Isso dá a impressão de que você está falando pelos cotovelos. Até que uma pessoa chegue para você e diga assim…
Wagner
PARA!
Veruska
PARA!
Marcello
Parei.
Wagner
Olha, eu amei demais esse negócio de falar pelos cotovelos e de ter exercício para isso.
Marcello
Muito bem.
Wagner
Já vou começar a me exercitar quando eu chegar em casa.
Marcello
Isso mesmo.
Wagner
Arrasou!
Veruska
Arrasou!
Wagner
Agora chegou a hora de um outro jogo. É o jogo do ‘E se…’
Vinheta de Quadro – E se…?

Veruska
Nesse jogo, vamos fazer perguntas começando com ‘E se…’
Wagner
… e nosso convidado vai usar bastante a imaginação para responder!
Veruska
E se pudesse dublar um personagem para um idioma inventado por você, como seria esse idioma?
Marcello
Bom, você poderia ter uma pessoa que traduzisse o idioma junto com outro que fala. Por exemplo, você me traduz?
Wagner
Com toda a certeza.
Marcello
Os tradutores não têm dúvida sobre o que eu estou falando?
Wagner
Sim.
Marcello
Então vamos lá. (começa a falar num idioma inventado)
Wagner
(traduzindo) Muito obrigado por estar aqui. Eu estou agradecido por esse convite. Eu falo e abro os braços assim todos os dias. Eu acordo e abro os meus olhos. E eu me espreguiço. É muito legal olhar pra vocês e ver aqui hoje, nesse dia. Obrigado. Pra você também.
Marcello
Muito obrigado, tradutor maravilhoso. Palmas para ele (batendo palmas) Maravilhoso.
Wagner
É que você é muito fluente.
Marcello
Você também.
Wagner
(olhando para o texto) Agora, até me perdi aqui.
Marcello
Ainda bem que... Aqui, ó.
Veruska
Aqui, ó. Tu tá aqui.
Wagner
Assim como eu me perco, eu também me acho.
Marcello
Muito bem. Porque quem procura...
Veruska
Acha!
Marcello
Muito bem.
Wagner
E se você... E se... Ah, me achei completamente. Estávamos no... ‘E se...’! E se você pudesse fazer a voz de um órgão do corpo humano, qual seria?
Marcello
(fazendo som de batida de coração) Eu sou o coração. Eu guardo todo o amor que você recebe.
Veruska
Coração? O que você quer dizer para a gente hoje, coração?
Marcello
(começa a cantar a música Love Is In The Air, de John Paul Young)
Veruska
E agora nós vamos para o nosso outro quadro chamado Dicionário.
Vinheta de Quadro – Dicionário

Wagner
Aqui, vamos pedir ao nosso convidado para explicar algumas coisas.
Veruska
São duas palavrinhas que aparecem na profissão dele e a gente não sabe
Wagner
Por exemplo, Marcello, o que é ‘voz original’?
Marcello
A diferença entre voz original e dublagem é uma coisa bem interessante de explicar. A dublagem é quando você traduz um desenho animado, por exemplo, a um filme, de uma outra língua pra sua. Você faz com que a sua voz saia em português, mexendo junto com a boca do ator. Já a voz original é diferente. É quando você faz um desenho animado. que no Brasil você produz um desenho animado, por exemplo, você cria, e aí o personagem não tem voz ainda. Por isso a gente chama de voz original, porque a gente é que vai inventar a voz dele. A primeira voz que o personagem vai ter vai ser a sua. Exatamente. Por exemplo, o nosso querido Bob Esponja. É dublagem. Mas a turma da Mônica é voz original.
Wagner
Entendi.
Marcello
Exatamente. Você cria a voz que o personagem não tinha antes.
Veruska
E o que seria locução?
Marcello
Locução é você dar a sua voz para uma propaganda.
Wagner
Como seria uma locução do Quando era criança?
Marcello
(fazendo voz de locator) Vocês todos têm que ouvir o podcast Quando Eu Era Criança, com a presença dos apresentadores...
Veruska
Veruska!
Marcello
E...
Wagner
Eu mesmo, Wagner.
Veruska
E agora, infelizmente, estamos indo... para nossas perguntinhas finais.
Marcello
Ai, meu Deus, tá bom. Pergunte tudo.
Wagner
Marcelo, nesse ritmo. Pode continuar batendo o coração.
Marcello
(faz som de coração batendo)
Wagner
Marcelo, quem mais te inspirou na sua profissão e carreira? E por quê?
Marcello
Darcy Pedrosa. Ele fazia a voz do Jack Nicholson. E era um grande dublador. Ele também fazia um quadro de um programa de TV que só os pais das crianças vão se lembrar, que se chama Acredite, se quiser.
Veruska
Era sensacional.
Marcello
Sensacional, figura extraordinária. Eu não conhecia em vida. Quando eu cheguei no Rio, ele já tinha morrido. Mas é uma pessoa que me inspirou muito, que tinha um jeito de fazer. Tudo que ele fazia era muito bom.
Veruska
E o que você diria para as crianças que amam a locução, adoram fazer dublagem e querem seguir esse caminho quando crescerem?
Marcello
Que você, assim, primeiro exercite bastante a imaginação, sabe? Corram atrás do que a imaginação de vocês trouxer e aprendam o quanto mais rápido vocês puderem a ler, porque ler é uma coisa que não só em voz alta, mas para si é uma coisa enriquecedora. A pessoa se transforma e transforma a sua imaginação quando aprende a ler. Então, leiam bastante, leiam livros de contos de fada, histórias em quadrinhos, comecem a tentar fazer as vozes dos personagens da história… E procurem uma escola de teatro para que vocês desenvolvam a voz de vocês e, então, possam seguir essa carreira.
Wagner
E se você pudesse voltar no tempo e encontrar aquele Marcelinho criança, o que é que você diria pra ele?
Marcello
Eu diria pra ele, pra acreditar cada vez mais em si mesmo. Nunca duvidar do que você consegue fazer com o seu talento. Porque, às vezes, a gente fica pra trás achando que não vai, que a gente não merece as coisas que a gente tem vontade de fazer. E aí, é isso, eu diria isso. Acredite no seu talento, sempre.
Wagner
É isso, Marcelo. Chegamos ao finalzinho do nosso programa. Muitíssimo obrigado a todo mundo que está vindo.
Veruska
Muito obrigado, pessoal.
Marcello
E estamos aí, para o que der e vier.
Wagner
É isso. Um beijo e até o próximo programa.
Vinheta de Encerramento

Direção – Filipe Carvalho e Márcio Andrade

Roteiro - Márcio Andrade

Desenvolvido a partir do formato criado originalmente por Márcio Andrade

Produção e Produção Executiva – Pollyanna Melo

Pesquisa e Produção – Karinë Ordonio

Apresentação – Andréa Veruska e Wagner Montenegro

Estúdio de Áudio – Falante Áudio

Atendimento - Mariana Bandeira

Edição, Mixagem e Finalização - Sergio Kyrillos

Trilha Sonora - João Santos

Composição Gráfica, Site e Gestão de Redes Sociais: Mirah Ateliê de Ideias (Paula K. e Juliana Santos)

Ilustrações: Paula K.

Conteúdo Digital e Imprensa – Gabriela Araújo Comunicação

Controller – Carol Acioli

Contabilidade – Paulo Ferreira

Realização – Combo Multimídia e Margente Filmes

Incentivo – Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura - Funcultura

Quem fez:

Wagner Montenegro

Apresentador

Andréa Veruska

Apresentadora

Márcio Andrade

Roteirista e Diretor

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